Alimentação Natural e Arraçoamento (Ração)
Manejo Nutricional e Alimentar
De acordo com o sistema de cultivo eleito, rações podem representar 40% a 70% do custo de produção. (cultivo intensivo e superintensivo). Deste modo uma das maneiras do produtor minimizar estes custos é ajustar adequadamente a qualidade da ração e o manejo alimentar durante as diferentes fases de produção do sistema de cultivo selecionado. Adequar à nutrição e o manejo da alimentação possibilita melhor aproveitamento do potencial de crescimento dos peixes; aperfeiçoa o crescimento dos peixes aumentando o numero de safras anuais; melhora eficiência alimentar minimizando os custos de produção; reduz o impacto poluente dos efluentes do criatório, contribuindo para o aumento da produtividade por área; confere maior saúde e tolerância a doenças e parasitoses; melhora a tolerância ao manejo dos peixes; e consequentemente maximiza as receitas do criatório.
O Alimento Natural na Dieta dos Peixes
Na natureza os peixes dispõem de uma dieta equilibrada, podendo escolher os alimentos que vão compor suas exigências nutricionais e preferencias alimentares. Neste ambiente raramente são observados sinais de deficiência nutricional. Este alimento natural é composto por vários organismos, tanto animal (crustáceos, larvas, moluscos, peixes, entre outros), quanto vegetal (frutos, sementes, algas, entre outros). De maneira geral estes alimentos são ricos em energia e proteína de ótima qualidade, além de servirem como fonte de vitaminas e minerais. Nestas condições observa-se não ser necessário o enriquecimento vitamínico nas rações usadas no cultivo de peixes em viveiros com oferta de alimento natural, porém, vale salientar que a suplementação vitamínica nas rações melhora a sobrevivência dos peixes. Esta suplementação completa é feita apenas nas rações destinadas às pós-larvas, em sistema de cultivo intensivo, e em rações usadas no período do inverno ou no tratamento de peixes doentes. A maior parte dos peixes são muito eficientes em aproveitar o alimento natural. (plâncton).
Nutrientes Essenciais Exigidos pelos Peixes
Através das rações e dos alimentos naturais os peices devem obter quantidades suficientes de nutrientes essenciais para garantir suas exigências em seus processos fisiológicos e metabólicos, assegurando assim adequado crescimento e saúde. De uma maneira geral, é sabido que os peixes necessitam de pelo menos 44 nutrientes essenciais, que incluem vitaminas, minerais, aminoácidos, carboidratos, lipídios, ácidos graxos e água.
Vitaminas e Minerais
As vitaminas e minerais desempenham importante função na formação dos tecidos ósseos e sanguíneos, nos processos metabólicos e fisiológicos e no crescimento muscular dos peixes. Funções estas essenciais para o desenvolvimento, crescimento e manutenção da saúde. Recentemente o aumento da produção de peixes, utilizando tanques-rede (sistema sem oferta de alimento natural), aumentou a incidência de ocorrências de ordem nutricional, isto ocorre devido ao uso de rações deficientes (incompletas nutricionalmente). Quando elegemos este sistema de cultivo intensivo, necessitamos de rações nutricionalmente completas, com enriquecimento de vitaminas e minerais. Peixes absorvem minerais diretamente da água, como é o caso do cálcio, contudo grande parte dos minerais está presente no alimento natural e na ração Alimentos de origem animal como as farinhas de sangue, carne, ossos são boas fontes de minerais, no entanto, rações completas a base de farelo de vegetais necessitam de suplementação extra. Com relação à nutrição dos peixes, uma particularidade é a falta de capacidade da grande maioria dos peixes em absorver acido ascórbico (vit. C), de grande importância ao crescimento e funcionamento do sistema imunológico. Rações para sistemas de cultivo intensivo devem ser suplementadas com fontes de vit. C.
Aminoácidos
Os aminoácidos são os responsáveis pela formação das proteínas, estas essenciais para formação do tecido muscular (crescimento) dos animais. Os peixes necessitam de 10 aminoácidos essenciais em sua dieta. A relação destes para rações completas elaboradas para nutrição são: lisina, arginina, histidina, treonina, valina, leucina, isoleucina, metionina, fenilalanina, triptofano. Deficiência de proteínas e aminoácidos ocasiona atraso no crescimento, piora na conversão alimentar e redução do apetite.
Carboidratos e Lipídios
Os peixes necessitam de energia para a manutenção de processos fisiológicos e metabólicos, essenciais para o crescimento e a saúde. Esta energia vem de processos metabólicos, os quais utilizam carboidratos, lipídios e proteínas para obtenção da mesma. Peixes são mais eficientes no uso da energia, pois não gastam energia para regulação da temperatura corporal, devido a isto grande parte da energia é utilizada para o crescimento. A energia digestível das rações depende da combinação dos ingredientes, do grau de moagem e do tipo de processamento.
Ácidos Graxos
São componentes dos lipídios (óleos e gorduras). Os peixes obtêm ácidos graxos essências através da ração ou de alimentos naturais quando disponíveis. A exigência destes é distinta entre espécies de clima frio, temperado e tropical. Ácidos graxos são importantes componentes das membranas celulares e servem como fonte de energia. Deficiência de ácidos graxos gera atraso no crescimento, redução na eficiência alimentar, podridão das nadadeiras e alta mortalidade.
Rações Nutricionalmente Incompletas (Suplementares)
Estas rações não dispõem de um equilíbrio correto entre vitaminas, minerais, aminoácidos, e possuem um menor nível de proteína. Utilizadas de forma eficaz em criatórios de peixes com oferta de alimento natural.
Rações Nutricionalmente Completas
Esta ração é indica para criatórios onde a disponibilidade de alimento natural não é possível. Em rações nutricionalmente completas todos nutrientes devem estar presentes, de forma a suprir as exigências da dieta dos peixes, fornecendo um crescimento adequado.
Manejo Alimentar na Engorda
Os sistemas de produção usualmente combinam os benefícios do alimento natural com o uso de rações suplementares ou completas, com o objetivo de melhorar a conversão alimentar e o desempenho da produção.
Conversão Alimentar
A CA é calculada dividindo a quantidade total de ração fornecida pelo ganho de peso dos peixes. O ganho de peso é calculado subtraindo-se da produção obtida, o peso total dos peixes na estocagem. Muitos fatores afetam diretamente a conversão alimentar dos peixes.
Qualidade do Alimento
Quanto mais próxima for à composição em nutrientes nos alimentos das exigências nutricionais dos peixes, melhor será a CA. Alguns outros fatores também influenciam na qualidade do alimento como o grau de moagem dos ingredientes e a palatabilidade.
Espécie de Peixe
As diversas espécies de peixes apresentam respostas diferentes quanto à demanda energética para atividades essenciais. Portanto estas diferenças também influenciam na CA de cada espécie.
Tamanho dos Peixes
Mesmo dentro de uma mesma espécie, peixes mais jovens apresentam melhor índice de CA, pois peixes menores apresentam uma melhor relação taxa de crescimento/exigência de manutenção comparados a peixes maiores.
Sexo e Reprodução
No caso especifico da tilápia este fator é determinante, pois fêmeas de tilápia direcionam grande quantidade de energia para a produção de ovos e cuidado parental, portanto crescem mais lentamente e apresentam piores níveis de CA.
Qualidade da Água
Quanto melhor for a qualidade da agua melhor serão os níveis de CA. Uma vez que reduzidos níveis de oxigênio dissolvido, elevada concentração de gás carbônico e amônia e nitrito toxico resultam em redução do consumo e piora no aproveitamento dos alimentos. Densidade de Estocagem: densidade de estocagem muito alta geralmente piora a CA, pois acelera a degradação da qualidade da água devido aos maiores níveis de arraçoamento exigido.
Temperatura da Água
Cada espécie exige uma faixa de conforto térmico para melhorar seu potencial de crescimento e o aproveitamento do alimento ofertado, o que influencia os índices de CA. Lembrando que o peixe é um animal pecilotérmico e sua atividade metabólica aumenta com a elevação da temperatura da água.
Nível de Arraçoamento
Se o alimento ofertado for pouco, é possível que os peixes consigam apenas manter suas exigências básicas, resultando em ganho de peso zero. Se o alimento ofertado for maior que o necessário para suas exigências básicas melhor será a CA. Porém se a quantidade de alimento ofertada for excessiva, geralmente este alimento terá uma maior velocidade de passagem pelo trato digestivo, o que reduz a digestão e assimilação do alimento o que piora a CA.
Cuidados com a Compra e Estocagem de Ração
A ração tem de obrigatoriamente ser estocada em local seco, arejado, longe da parede, sobre suporte e coberta ou armazenada em tambores, ficando assim livre de ratos, insetos e outros. Compre a ração periodicamente de forma que a estocagem não seja superior a 60 dias, respeitando o prazo de validade das rações. Muitos dos componentes da ração poderão se deteriorar com o passar do tempo. Ao abrir os sacos de ração verifique se esta apresenta formação de bolores. Rações com estas características devem ser descartadas, pois podem prejudicar a saúde dos peixes se ingerida.